A Anamnese na Psicopedagogia: Uma Imersão Detalhada
- Juliana Palma
- 13 de jun.
- 3 min de leitura

A anamnese é muito mais do que um simples questionário. No contexto psicopedagógico, ela é a sessão fundamental que nos permite mergulhar na história de vida do sujeito (criança, adolescente ou adulto) e coletar dados essenciais que irão iluminar todo o processo diagnóstico e, consequentemente, a intervenção.
Conforme o "Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico" de Simaia Sampaio, o objetivo principal da anamnese é resgatar a história de vida do sujeito e colher dados importantes que possam esclarecer fatos observados durante o diagnóstico, bem como saber que oportunidades este sujeito vivenciou como estímulo a novas aprendizagens.
A Importância Estrutural da Anamnese no Diagnóstico
No esquema diagnóstico proposto pela Epistemologia Convergente (abordagem de Jorge Visca, citada no livro), a anamnese muitas vezes figura como uma das últimas etapas de coleta de dados. Por que isso? A autora do manual, Simaia Sampaio, destaca uma importante reflexão: evitar a "contaminação" do olhar do profissional.
Se a anamnese é realizada logo no início, com pais fornecendo um "bombardeio de informações" e por vezes, laudos prontos de outros profissionais (psicólogos, neuropsicólogos), o psicopedagogo iniciante corre o risco de ser influenciado. Isso pode levar a uma busca por indícios do distúrbio já mencionado no laudo, deixando de lado aspectos positivos do sujeito e distorcendo a percepção "ingênua" necessária para uma observação imparcial.
Portanto, o livro sugere que a anamnese, embora essencial, seja realizada em um momento estratégico para confrontar todas as hipóteses levantadas nas fases anteriores do diagnóstico (EOCA, Provas Operatórias, Técnicas Projetivas).
O Que Investigar Detalhadamente na Anamnese?
A anamnese é a peça-chave para montar o "quebra-cabeças" do diagnóstico, revelando informações do passado e do presente do sujeito, assim como as variáveis de seu meio. O manual de Simaia Sampaio oferece um roteiro abrangente de investigação:
História Vital (Desde a Concepção):
Gravidez (desejada, aceita, intercorrências, uso de medicações).
Parto (tipo, intercorrências como falta de dilatação, circular de cordão, uso de fórceps). O livro ressalta que "Algumas circunstâncias do parto... costumam ser causa da destruição de células nervosas que não se reproduzem e também de posteriores transtornos, especialmente no nível de adequação perceptivo-motriz."
Primeiras aprendizagens não escolares (uso de mamadeira, copo, colher, engatinhar, andar, controlar esfíncteres).
Autonomia no desenvolvimento: os pais incentivavam ou superprotegiam?
História Clínica/Patológica Pregressa:
Doenças na infância (sarampo, catapora, caxumba, rubéola, coqueluche, meningite, otite, amigdalites, alergias).
Internações, cirurgias, acidentes, quedas, traumatismos, convulsões.
Condições psicológicas da mãe durante a gravidez.
Desenvolvimento Neuropsicomotor:
Idade em que sustentou a cabeça, sentou, engatinhou, andou, falou.
Problemas de fala, salivação excessiva, coordenação motora, equilíbrio.
Dominância manual.
Sono e Hábitos:
Qualidade do sono (tranquilo, agitado, range dentes, terrores noturnos, sonambulismo, soniloquismo).
Hábitos específicos (chupar dedo, roer unha, tiques nervosos, manias, vinculação a objetos).
Escolaridade:
Idade de entrada na escola, adaptação, aceitação, trocas de escola, metodologia das escolas, aspectos positivos/negativos da aprendizagem.
Queixas frequentes: dificuldades em ler, escrever, contar, calcular, coordenação motora, atenção, concentração, troca de letras, letra ilegível, esquecimento.
Relações Familiares e Sociais:
Consciência da família sobre as dificuldades da criança.
Papel da família no desenvolvimento da autonomia.
Presença de autoritarismo, limites, afetividade, forma de punição.
Relação com pais, irmãos, amigos, professores.
Conflitos familiares, perdas (separação, falecimento).
Informações Gerais Familiares:
Situação econômica e cultural.
Frequência de leitura de livros, ida ao cinema, teatro, participação em atividades de artes.
Hábitos de lazer, constância de diálogos, refeições em conjunto.
Presença de vícios (drogas, alcoolismo).
Condução da Anamnese: A Postura do Psicopedagogo
O manual enfatiza que a anamnese deve ser conduzida de forma que os pais se sintam à vontade para falar. O psicopedagogo pode ter um roteiro, mas não deve transformá-lo em um questionário automatizado. A escuta ativa, a capacidade de complementar ou aprofundar um assunto, e a flexibilidade para deixar a família falar livremente são cruciais.
É fundamental que o psicopedagogo esteja seguro de suas posições e não ceda às exigências dos pais, pois eles também precisam de limites e de uma compreensão clara e profissional do processo. A autora sugere que o profissional realize periódicas sessões de terapia e supervisão para sentir-se mais seguro e evitar a "contaminação" por histórias que possam se assemelhar à sua própria vivência.
A anamnese é a base para o psicopedagogo, fornecendo o suporte necessário para uma prática ética e eficaz, desvendando as complexas camadas que envolvem o processo de aprendizagem do sujeito.
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