Desvendando o Diagnóstico Psicopedagógico: Um Guia para Psicopedagogos e Neuropsicopedagogos
- Juliana Palma
- 15 de jun.
- 5 min de leitura

Queridos colegas psicopedagogos e neuropsicopedagogos, sabemos que o diagnóstico psicopedagógico é um dos pilares mais importantes do nosso trabalho. É por meio dele que conseguimos olhar além do que se mostra, para realmente entender por que uma criança ou adolescente está encontrando dificuldades em aprender. Aqueles comportamentos que vemos no dia a dia – seja um baixo rendimento na escola, a falta de concentração, ou até mesmo uma agitação maior – são, muitas vezes, sinais de algo mais profundo. É um convite para desvendarmos juntos o que está acontecendo.
Entendemos que, por trás desses desafios, nem sempre o sujeito é o "culpado". Muitas vezes, são reflexos de situações delicadas em casa ou de estruturas escolares que precisam de um novo olhar. Nosso papel é, justamente, transformar esse desafio em uma oportunidade de compreensão e apoio. Sabemos que pode ser difícil diferenciar esses pontos, mas acreditem: não é impossível!
O Diagnóstico como um Quebra-Cabeça Acolhedor
Pensem no diagnóstico como um grande quebra-cabeça. Cada peça que recebemos, seja da família, da escola ou do próprio indivíduo, nos ajuda a construir uma imagem completa. A beleza do nosso trabalho é que a forma como montamos esse quebra-cabeça depende de nós, psicopedagogos. E para que o resultado seja o melhor possível, precisamos considerar tudo: o que se vê e o que se sente, os aspectos cognitivos, familiares, pedagógicos e sociais.
Como diz Fernández (1990), o diagnóstico é como uma rede de segurança para um equilibrista – ele nos dá o suporte necessário para guiar nossos pacientes. É um processo de investigação contínuo, onde levantamos ideias iniciais (nossas "hipóteses provisórias") que vamos confirmando ou ajustando ao longo do caminho, sempre baseados em nossos conhecimentos. A "escuta psicopedagógica" é fundamental para isso; ela nos permite "decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção".
A Força da Epistemologia Convergente
Ao seguir a linha da Epistemologia Convergente, entendemos que todo o nosso processo diagnóstico é feito para observar a dança entre o lado cognitivo (o que a pessoa pensa) e o lado afetivo (o que a pessoa sente), e como essa interação molda o funcionamento do indivíduo. É um trabalho tão importante quanto o próprio tratamento, pois impacta profundamente o paciente e sua família. Por isso, cada passo do diagnóstico é dado com muito carinho e atenção, observando cada mudança que surge.
Sabemos que cada profissional tem seu jeito de trabalhar, dependendo da sua base teórica. Na Epistemologia Convergente, Visca (1987) nos ensina que o diagnóstico começa com a primeira conversa (com os pais ou com o paciente) e termina na devolução dos resultados. Antes mesmo de iniciar as sessões com a criança, temos uma conversa essencial com os pais ou responsáveis. É um momento para colher as informações básicas, entender a principal preocupação, ouvir as expectativas de todos e explicar como será nosso trabalho.
Evitando Armadilhas e Priorizando um Olhar Genuíno
Visca (1991) propõe iniciar com a EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) e não com a anamnese, pois ele argumenta que, na anamnese, os pais podem, mesmo sem querer, influenciar nosso olhar. Seguir essa linha nos ajuda a "chegar 'ingenuamente' ao paciente para vê-lo tal como ele é, para descobri-lo". Ao evitar a "contaminação" por excesso de informações iniciais, nosso olhar se mantém mais puro, focando no que a criança realmente nos mostra.
É um ponto crucial para refletirmos: não é raro que famílias nos entreguem laudos de outros profissionais já no primeiro contato. E, muitas vezes, ao refazer o diagnóstico, não encontramos aquelas dislexias ou TDAHs mencionadas. Sabemos o quanto isso pode nos influenciar, fazendo-nos procurar indícios do distúrbio já citado, e isso não é saudável, principalmente para a criança, pois os aspectos positivos podem acabar em segundo plano. Por isso, em nossa abordagem, a anamnese fica para o final, e começamos sempre pela entrevista contratual.
Nosso Caminho Juntos: As Sessões do Diagnóstico
Para ajudar na organização, o fluxo que seguimos é bem claro e, geralmente, se completa em oito a dez sessões:
1ª Sessão: Acolhimento e Contrato – Uma conversa inicial com os pais ou responsáveis para entender a queixa e acertar os detalhes práticos.
2ª Sessão: EOCA – O primeiro encontro com a criança, onde ela nos mostra como se relaciona com o aprender, de forma espontânea. É a partir daqui que começamos a selecionar as próximas ferramentas.
3ª e 4ª Sessões: Provas Operatórias – Descobrimos como a criança pensa e se desenvolve logicamente, identificando seu nível cognitivo.
5ª e 6ª Sessões: Técnicas Projetivas – Exploramos os laços da criança com a escola, a família e consigo mesma, através de atividades lúdicas e expressivas.
7ª Sessão: Provas Pedagógicas ou Outros Testes – Se necessário, aprofundamos em aspectos específicos da aprendizagem escolar e analisamos materiais da escola.
8ª Sessão: Uma sessão extra, caso seja preciso aprofundar em algo ou fazer alguma observação adicional.
9ª Sessão: Anamnese – O momento de conversar mais a fundo com os pais, entendendo a história do desenvolvimento da criança.
10ª Sessão: Devolução – O ponto alto, onde compartilhamos os resultados e orientamos os próximos passos com a família e o paciente.
Ferramentas que Facilitam o Nosso Dia a Dia
Para organizar tudo, sugerimos a utilização de uma ficha de entrevista contratual e uma ficha de frequência que auxiliam no registro e acompanhamento dos atendimentos, tanto para diagnóstico quanto para tratamento.
A EOCA , que é a primeira sessão com a criança, nos permite observar os vínculos dela com os objetos e conteúdos da aprendizagem escolar, suas defesas e como ela enfrenta novos desafios. É uma oportunidade valiosa para entender o que a criança sabe e aprendeu a fazer.
As Provas Operatórias , aplicadas nas sessões seguintes, nos dão uma visão clara do desenvolvimento lógico e do nível cognitivo do sujeito. Elas nos ajudam a ver se há alguma "defasagem" em relação à idade cronológica, que chamamos de "obstáculo epistêmico". É fundamental aplicá-las com segurança e cuidado, pois qualquer detalhe pode influenciar os resultados.
As Técnicas Projetivas , por sua vez, são um tesouro para investigar os laços da criança em três grandes áreas: com a escola, com a família e consigo mesma. Elas nos ajudam a entender como a criança percebe e interpreta o mundo, revelando aspectos importantes de seu interior. O desenho e o relato são ferramentas poderosas para isso, mostrando como o pensamento se organiza e elabora as emoções.
Esperamos que este guia reforce a beleza e a profundidade do nosso trabalho. Cada etapa do diagnóstico é uma oportunidade de acolher, compreender e traçar um caminho mais claro para aqueles que buscam a nossa ajuda. Juntos, fazemos a diferença na jornada de aprendizagem!
Comentários