Resistência dos Pais ao Diagnóstico Psicopedagógico: Como Lidar?
- Juliana Palma
- 13 de jun.
- 3 min de leitura

Você, como psicopedagogo, já se deparou com pais que, apesar de reconhecerem as dificuldades do filho, demonstram certa resistência ao processo de diagnóstico ou aos resultados? Essa é uma realidade comum na prática clínica, e o "Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico" de Simaia Sampaio aborda esse tema de forma muito relevante.
A autora explica que muitos pais, mesmo percebendo que "as coisas não vão bem", resistem ao diagnóstico de alguma forma, muitas vezes de maneira inconsciente. Essa resistência pode se manifestar de diversas maneiras: atrasos nas sessões, faltas, ou até mesmo a dificuldade em aceitar plenamente as informações sobre o diagnóstico.
Por Que a Resistência Acontece?
A resistência dos pais não é, na maioria das vezes, uma má-vontade. Ela está profundamente ligada a emoções complexas:
Culpa: Muitos pais podem sentir-se culpados pela dificuldade do filho, e o diagnóstico pode reforçar essa culpa.
Frustração: A frustração por não conseguir ajudar o filho ou por não entender o problema pode gerar resistência.
Negação: É um mecanismo de defesa comum. Aceitar que o filho tem uma dificuldade ou um transtorno pode ser doloroso.
Desinformação: A falta de conhecimento sobre o TDAH, a dislexia ou outros transtornos pode levar a preconceitos e medos.
Histórico Pessoal: Se a história do filho se assemelha a algo vivido pelos pais (ex: o pai também tinha TDAH não diagnosticado), pode haver uma identificação que dificulta a aceitação.
Medo do "Rótulo": A preocupação com o "rótulo" que o diagnóstico pode trazer para a criança é um medo real para muitas famílias.
Manifestações da Resistência no Processo Diagnóstico:
O livro de Simaia Sampaio aponta como a resistência pode se manifestar, especialmente na fase inicial da Entrevista Contratual e Anamnese:
Ataques ao Enquadramento:
Ao psicopedagogo: Duvidar de sua qualificação ("que seja um psicoterapeuta", "que seja um professor").
Ao espaço: Querer que o atendimento seja no domicílio do paciente.
Ao tempo: Questionar a frequência e duração das sessões, tentando diminuí-las ou aumentá-las de forma inadequada.
Faltas e Atrasos: Deixar de comparecer ou chegar atrasado nas sessões, o que, segundo a autora, "não é por acaso e é importante ser levado em conta".
Dificuldade na Devolutiva: A mãe, ao receber o diagnóstico do TDAH do filho, pode até perguntar se ele é "retardado", demonstrando desinformação e resistência.
Estratégias para Lidar com a Resistência:
A postura do psicopedagogo é crucial para quebrar essa resistência e transformar a família em aliada:
Segurança e Firmeza Profissional: O psicopedagogo precisa estar muito seguro de suas posições e do valor do seu trabalho. Não ceda às exigências descabidas dos pais, pois eles também precisam de limites e clareza.
Explicação Clara e Objetiva:
Durante a devolutiva, explique o diagnóstico em linguagem clara, acessível e sem jargões técnicos.
Ressalte a importância de tomar consciência do problema e como a família pode ajudar.
Dê o máximo de informações possíveis: sites, artigos, indicação de livros e de outros profissionais (neurologistas, psiquiatras) que tenham experiência no assunto.
Foco nos Aspectos Positivos: Inicie a devolutiva tocando nos aspectos positivos do paciente. Isso valoriza o indivíduo e a família, tornando-os mais receptivos às informações sobre as dificuldades. A revelação apenas dos aspectos negativos pode abalar a autoestima da criança e da família.
Organização e Roteiro: Tenha um roteiro para a devolutiva. Isso ajuda o psicopedagogo a não se perder e evita que os pais fiquem confusos. O processo deve ser feito com "muito afeto e seriedade, passando segurança".
Apoio Multiprofissional: Deixe claro que o diagnóstico e o tratamento são multidisciplinares. Reforce a importância da parceria entre psicopedagogo, família, escola e outros especialistas.
Supervisão e Terapia Pessoal: Simaia Sampaio destaca a importância de o psicopedagogo fazer sessões periódicas de terapia e supervisão com outro psicopedagogo. Isso o ajuda a se sentir mais seguro em suas posições e a não se "contaminar" pela história do paciente, especialmente se ela se assemelha à sua própria vivência. Manter a neutralidade sobre a vida pessoal é fundamental.
Lidar com a resistência dos pais é um desafio, mas com ética, clareza, empatia e um bom suporte profissional (como a supervisão), o psicopedagogo pode transformar essa barreira em uma ponte para o sucesso do acompanhamento.
Você busca mais segurança para lidar com a resistência dos pais e conduzir a devolutiva do diagnóstico? Nosso Curso de Supervisão Neuropsicopedagógica te prepara para esses e outros desafios da prática clínica!




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